História do Funk
O surgimento do funk é resultado da combinação de diversos estilos musicais afro-americanos, como o blues, gospel, jazz e soul, que eram muito populares nos Estados Unidos. Embora não haja um único inventor do funk, James Brown é considerado um dos nomes mais importantes no desenvolvimento do gênero.
Brown, conhecido como o “Pai do Funk”, foi um dos pioneiros em utilizar batidas repetitivas de bateria e baixo em suas músicas, criando um som único e dançante que mais tarde se tornaria um dos elementos fundamentais do funk. A faixa “Papa’s Got a Brand New Bag”, lançada em 1965, é um exemplo clássico desse som, apresentando um groove inovador e uma batida forte e contagiante.
A partir dos anos 70, o funk se consolidou como um estilo musical próprio, com artistas como George Clinton, Sly & The Family Stone, Kool & The Gang e Earth, Wind & Fire contribuindo para sua popularidade e evolução. O funk também teve uma grande influência na música brasileira, principalmente na década de 80, quando surgiu o movimento conhecido como funk carioca, com artistas como MC Marcinho, Claudinho & Buchecha e Bonde do Tigrão.
O termo “funk” ou “funky” tem uma origem interessante e controversa na história da música. Músicos de jazz começaram a usar essa palavra para pedir mais força ao ritmo, e alguns estudiosos sugerem que poderia ser uma fusão do vocábulo quibundo “lu-fuki” e a palavra inglesa “stinky”.
A partir daí, os termos evoluíram para descrever um estilo musical que apresenta uma batida constante e uma melodia dançante. E os criadores do funk utilizaram essas palavras para batizar suas composições, como o clássico “Opus de Funk” de Horace Silver e “Funky Drummer” de James Brown.
Com o passar dos anos, o funk evoluiu e se tornou um gênero musical por si só, incorporando elementos de soul, jazz, R&B e música eletrônica. Atualmente, o funk é um dos estilos mais populares do Brasil, especialmente no Rio de Janeiro e em São Paulo, e é conhecido por suas letras sensuais e dançantes, batidas pulsantes e groove irresistível.
Evolução do Funk até os dias de hoje
Década de 50
Horace Silver, o renomado pianista americano que faleceu em 2014, deixou como legado uma contribuição fundamental para a música moderna. Ele uniu a virtuosidade do jazz às melodias mais dançantes do soul, criando um estilo próprio que ele mesmo chamou de “funky style”.
Uma das músicas que melhor resume esse estilo é “Song for my father”, que se tornou um clássico do jazz. O que chama atenção nessa música é a batida constante que se repete durante toda a canção e cada instrumento improvisando a partir de uma melodia básica. É um exemplo perfeito da maneira como Horace Silver combinava harmonias complexas e improvisação com uma sensibilidade para a música de dança que influenciou inúmeros artistas. Seu legado permanece vivo e inspirando músicos até os dias de hoje.
Década de 60
A década de 60 marcou a aparição do funk como estilo independente através de James Brown (1933-2006).
Brown cresceu no estado da Geórgia, nos Estados Unidos, e sua vida foi marcada pela segregação racial. Ali absorveu toda a música que os negros faziam, tanto o gospel, como blues e as inovações de Horace Silver que aceleravam a batida soul.
Aprendeu a tocar gaita, guitarra e a cantar, e inventa seu próprio caminho musical ao enfatizar o primeiro tempo do compasso. Sucessos como “Papa got a new brand bag” ou “I feel good” são as primeiras compostas neste novo estilo musical.
Assim, estava criado o funk que influenciaria toda uma geração de músicos americanos e estrangeiros.
O ritmo, nesta época, também está intimamente ligado à luta pelos Direitos Civis nos Estados Unidos. As letras contavam o cotidiano de discriminação e da falta de perspectiva dos afrodescendentes.
Igualmente, à medida que o funk atingia mais pessoas, os negros americanos tinham um motivo para se orgulhar ao ver que sua cultura se espalhava nos lares brancos.
Década de 70
Na década de 70, experimenta-se o funk com a música eletrônica e com o rock.
Com a popularização do disco de vinil e a aparição de equipamentos mais potentes, os músicos não precisam estar presentes fisicamente para produzir música.
Desta maneira, surge a profissão de DJ, que será o responsável por misturar distintas melodias e ritmos dentro de uma mesma canção. Este gênero musical vai para as discotecas e conquista artistas pop, como Michael Jackson (1958-2009), cuja canção “Don’t Stop ‘Til You Get Enough”, revela a influência da batida funk.
Por outro lado, músicos como George Clinton (1941), misturam o funk com as guitarras e os longos temas que caracterizam o rock progressivo e o psicodélico. Temas como “Hit It and Quit It” retratam esta experiência.
Década de 80
O surgimento dos sintetizadores e a consolidação da música eletrônica dão espaço para a combinação entre o funk e o hip hop. Há duas vertentes distintas: uma oriunda dos bairros de população negra de Miami, com um ritmo mais acelerado, e outra originária de Nova York.
As batidas são mais repetitivas, pois agora basta programar o teclado ou o sampler para que as executem indefinidamente. Na vertente praticada pelo movimento Miami Bass, as letras e as coreografias são mais erotizadas e possuem influência cubana como a rumba.
Nessa década se verifica a aproximação do funk com a poesia do rap, algo que fará muito sucesso no Brasil, especialmente no Rio de Janeiro.
Bandas de rock como a americana Red Hot Chilli Peppers usam as batidas do funk com a estrutura do rock, criando o rock-funk. A canção “Give it away” é um bom exemplo desta fusão.
Década de 90 até o século XXI
Durante a década de 90, o funk se mescla com o hip hop e o rap, consolidando sua vocação para estar juntos aos estilos da periferia das grandes cidades.
Grupos como o americano “Linving Colour” e o britânico “Jamiroquai” utilizaram a batida funk para criar um novo estilo de rock mais dançante.
Igualmente, grupos de música eletrônica incorporaram o funk e acentuaram o ritmo através do uso de sintetizadores. Outras vertentes surgidas nesta época foram o electro-funk, o boogie e o go-go.
Funk no Brasil
O funk chega ao Brasil nos anos 70 e conquista músicos como Tim Maia (1943 -1998) e Tony Tornado (1970). Estes serão os responsáveis por misturar o ritmo funk americano à batida da música brasileira.
Igualmente, o radialista Big Boy (1943-1977) começou a promover os “Bailes da Pesada” no Canecão, no Rio de Janeiro, que neste momento funcionava como churrascaria. Ali tocava-se rock, soul, groove, funk, reunindo a juventude carioca.
Quando os bailes no Canecão chegaram ao fim, Big Boy decidiu torná-los itinerantes e passou a tocar tanto na Zona Sul como na Zona Norte da cidade.
Segundo o DJ Marlboro (1963), a partir daí, aparecem dois tipos de bailes: os de rock e os de música eletrônica, mais ligados ao som “Miami bass“, que eram conhecidos também como “baile funk”. O nome ficou, embora já não tivesse muita relação com o som original.
O fenômeno do funk carioca
O funk carioca aparece na década de 80. Sua origem é a mistura das batidas eletrônicas do hip hop, da poesia do rap e da habilidade dos DJ’s em mesclar batidas repetitivas com a melodia.
A temática das letras está ligada diretamente ao cotidiano da favela ou do subúrbio carioca. Neste sentido, um bom representante desta vertente é o tema “Lá em Acari“, de MC Batata, ainda vinculado à estética de Miami.
Nos anos 90, com o aumento da violência urbana e a invasão das favelas por forças policiais, as letras passaram a contar esta realidade, como percebemos no “Rap das Armas“. Por outro lado, o funk também foi usado para pedir direitos civis, como está claro em “Eu só quero é ser feliz“, ambas de MC Cidinho e MC Doca.
A partir do século XXI, as letras de funk tornaram-se cada vez mais apelativas e erotizadas. Abandonam a estrutura de estrofe e refrão para se resumir a frases de efeito como vemos em “Atoladinha“, de Bola de Fogo e Tati Quebra-Barraco; ou “Só as cachorras“, do Bonde do Tigrão.
Atualmente, o funk carioca se divide em vários sub gêneros como o funk melody, funk ostentação, funk proibidão e new funk.
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